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Com a Assembleia Geral de Dezembro chega ao fim mais um ciclo para a Associação de Cinema Audiovisual de Cabo Verde, que este ano completou sete anos de existência. Nesta entrevista Mário Benvindo Cabral, presidente da direcção, fala sobre os projectos concretizados e o que o futuro guarda para a ACACV e para o cinema cabo-verdiano.

 

O plano de actividades aprovado em Dezembro passado era ambicioso. Que percentagem conseguiram concretizar?

Posso dizer que concretizamos mais de 95% das ações programadas. De resto foi um ano de muitas realizações. Conseguimos organizar ações de formação e projeções de filmes no interior de Santiago, nomeadamente em São Lourenço dos Órgãos, Calheta de São Miguel e Santa Cruz. Ainda na óptica da descentralização, designamos uma representante para Mindelo de modo a podermos descentralizar as nossas actividades.Conseguimos dar resposta a pedidos de apoio financeiro fora do edital. Foram apoiados vários filmes nacionais em fase final de produção. Materializamos a residência artística Pilorinho, um dos pontos altos do nosso plano de actividades. Ainda agora acabamos lançar o maior edital de apoio a produções de filmes em Cabo Verde superando o edital de 2018. Para este ano teremos 2500 contos para 5 filmes seleccionados.

As formações foram uma grande aposta para este ano, certo?

Em 2019 grande parte do orçamento da ACACV foi direcionado para formações. Tivemos seis ações de formação: Roteiro, Edição, Projecção, Interpretação para TV e Cinema e o Dock4Kids, além da residência para produção de documentário Pilorinho. Estiveram connosco 3 formadores especialistas do estrangeiro.Acreditamos que este investimento poderá constituir uma mais-valia num futuro próximo porque,  por um lado, pode ajudar a sensibilizar os governantes para a necessidade da inclusão do cinema e do audiovisual nos currículos escolares, por outro lado teremos gente com alguma preparação básica que futuramente poderão desenvolver, tendo em conta tratar-se de uma área bastante vasta. Em relação ao Pilorinho, que foi inspirado no AFRICADOC, a ideia é contribuir para o aparecimento de novos talentos na área de escrita audiovisual, sendo eles da área ou não. É uma formação essencial para quem quer começar a fazer documentários que criativos, que não são fáceis de se fazer, justamente porque passa por um longo processo de maturação da ideia até se chagar ao filme propriamente dito. Nesta residência poderão não sair filmes de imediato, por agora, mas surgirão ideias de projectos que poderão no futuro concorrer ao nosso edital, por exemplo, e tendo sido preparado devidamente poderão se sérios candidatos.  

Fale-me das novas parcerias firmadas pela Associação. Que resultados trouxeram?

Uma das parcerias firmadas em 2018 e que agora começa a dar frutos é a com a Apordoc (Associação pelo Documentário, de Portugal), que permitiu trazer a Cabo Verde o Dock4kids virado essencialmente para as crianças, numa perspectiva de faze-las pensar através da visualização de trechos de filmes. O grande desafio para o próximo ano é levar estas formações a outros concelhos, nomeadamente São Vicente, onde agora podemos contar com a nossa representante. Vamos também levar algumas ações de formação a outros concelhos periféricos de modo a podermos dar oportunidade a jovens locais.

A primeira edição da residência Pilorinhu, em Junho, foi um marco. É para repetir?

Pilorinho foi de facto um grande desafio. Trazer uma formadora desse calibre a Cabo Verde elevou a fasquia da residência e temos que melhorar a cada ano. Pilorinhu 2019 foi uma aposta ganha, desde logo porque conseguimos juntar um grupo de formandos de várias ilhas. Criamos e formatamos uma residência em regime fechado com excelentes condições de acolhimento fora da capital. Graças a parcerias com a Câmara da Ribeira Grande de Santiago e com o Espaço Pôr do Sol proporcionamos aos formandos sete dias inesquecíveis, para usar uma palavra de um dos formandos. De facto a residência é para continuar e para o ano queremos levá-la a uma outra ilha e, quem sabe, com mais tempo e com dois formadores.

O primeiro edital de apoio à produção foi outra realização. Como a ACACV tem acompanhado a concretização dos projectos financiados?

Temos acompanhado de perto as produções, as que já estão na fase de edição. Do que já vimos quero crer que três vão apresentar os filmes antes do final do ano. Alguns projectos, por serem mais complexos, deverão atrasar na apresentação dos mesmos. Há 2 projectos que certamente não vão cumprir os prazos de entrega que é 31 de Dezembro de 2019.

A ACACV é parceira dos três festivais de cinema realizados no país. Estão no bom caminho, estas parcerias, ou há algo que poderia ser reforçado?

Em relação aos festivais teremos que mudar muita coisa em 2020 com dois festivais, Oiá e Cabo Verde International Film Festival, face à eventual aprovação da Lei do Cinema, mas isto podemos abordar mais tarde quando efectivamente for aprovado. Quanto ao Festival Plateau, creio que não é só nossa opinião que as coisas devem mudar. No entanto, não gostaria de avançar antes de fazermos o balanço daquilo que foi o Plateau 2019.

A Associação prepara-se para alterar os seus Estatutos e voltar a pressionar o Governo em relação ao projecto da Lei do Cinema. Quer comentar?

A Lei do Cinema está em cima da mesa. Estivemos esta semana a ultimar o texto final que o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas vai tomar como base. A lei do cinema é uma proposta da ACACV em estreita colaboração com o MCIC. Está bem encaminhado e o Ministério tem manifestado grande interesse. Alteração dos Estatutos é competência exclusiva da Assembleia Geral. Já temos uma equipa que respondeu à solicitação da Direcção para preparar a alteração aos Estatutos para ser apresentado à AG. É imprescindível que esta alteração aconteça. Diria até que o futuro da ACACV depende desta alteração. Como pode compreender, ainda não posso publicamente abordar a questão a fundo sem antes falar com os associados.

 

O que mais se pode esperar para o próximo ano?

Para 2020, estamos para já expectantes em relação à aprovação da Lei do Cinema que, como já disse, alterará a forma de funcionar da ACACV. Vamos apostar na descentralização das nossas acções de formação. Pretendemos firmar protocolos de cooperação com algumas câmaras municipais já no início do ano, de modo a sensibilizar as outras. Vamos continuar a apostar nas formações e elevar o nível trazendo alguns especialistas para ministrar formações dirigidas a profissionais do audiovisual.

A residência Pilorinhu sendo itinerante vai acontecer fora da ilha de Santiago. Vamos trabalhar para melhorar a nossa comunicação com os associados e emitir o cartão de sócio. Esperamos para 2020 maior participação dos sócios nas nossas actividades. Este, creio, é o desafio maior para 2020.

Mário Cabral

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