O Cinema caboverdiano acaba de ser premiado no FICCA - Festival Internacional de Cinema de Caeté 2018, na Cidade do Porto, Portugal.
O caboverdiano Ercie Chantre e o português radicado em Cabo Verde João Paradela foram premiados, o primeiro com uma Menção Honrosa pelo trabalho “O Acordar do Gigante” e o segundo com o “Grande Prémio FICCA dos Direitos Humanos” por “Tarrafal: Dez pancadas no carril”, ambos documentários.
Ercie Chantre, natural de Tarrafal de São Nicolau, trabalha no audiovisual há 8 anos, como repórter de imagem, obteve uma Menção Honrosa com “O Acordar do Gigante”na categoria de Documentário Curta Metragem.
Trata-se de uma crónica realizada no âmbito universitário onde descreve a sua experiencia profissional vivida durante a erupção vulcânica da Ilha do Fogo, Cabo Verde, ocorrida em finais de 2014, num momento em que realizava um reportagem em que tinha a missão de retratar através da imagem a dor das gentes de Chã das Caldeiras.
Questionado a cerca das dificuldades encontrou no processo de realização do documentário, o jovem realizador realçou como única dificuldade o tempo entre o acontecimento e a escrita em si da crónica, pois foi escrita cerca de 4 anos após a erupção e corria o risco de falhar em termos de memória. Contudo, afirma que, “há coisas que perduraram pelo resto da vida, e a catástrofe de Chã das Caldeiras é uma delas”.
Realçou ainda o facto de não ter tido quase nenhum apoio, exceptuando a parceria com a ACI, empresa pela qual trabalha que custeou a viagem e dos incentivos dos professores, amigos e colegas da universidade.
Para este jovem realizador, receber um prémio desta envergadura é de extrema importância pelo que foi com extrema alegria que recebeu a notícia: “Penso ser importante em termos de incentivo à produção. Valorizações dessas inspiram-nos a produzir e a tirar da gaveta trabalhos que de outra forma não têm tanta notoriedade aqui em Cabo Verde. Faltam meios de divulgação. Festivais são poucos e às vezes produzindo, não se sabe aonde e como fazer essa divulgação. Um prémio internacional faz sempre bem a Cabo Verde, pois mostra que aqui também se faz cinema e produções de qualidade, e abre novas portas a participações frequentes de produtores e realizadores cabo-verdianos. A nível interno penso ser uma mensagem aos novos produtores/realizadores de que é possível sim fazer chegar os nossos trabalhos além-fronteira”, afirma o jovem realizador.
Ercie Chantre adiantou ainda que tem como projectos futuros levar este e outros trabalhos a todos os festivais que haja possibilidade de participação, tendo inclusive, apresentado recentemente outro trabalho, uma curta-metragem ficção, no PLATEAU - Festival Internacional de Cinema da Praia. “A ideia é divulgar cada vez mais os meus trabalhos, tanto aqui em Cabo Verde, como fora do país. Em relação ao futuro, já estou trabalhando em novos projectos e penso apresenta-los brevemente.
Por seu lado, “Tarrafal: Dez pancadas no carril”, um documentário Longa Metragem de João Paradela, arrecadou o “Grande Prémio FICCA dos Direitos Humanos”. Trata-se de uma co-produção da UKBAR FILMES e Voo Da Cegonha, com vozes de Miguel Borges e Dalila Carmo. O filme cuja banda sonora é da autoria do músico e compositor Mário Lúcio teve como argumentista o poeta e ensaísta Mário Fonseca (falecido em 2009).
O documentário que levou dez anos a concretizar-se, pretende ser o resgatar das memórias vividas por todos aqueles que passaram pelo Campo de Concentração do Tarrafal bem como os que foram directa ou indirectamente influenciadas por aquele lugar.
Com isso o realizador pretende manter viva a memória de um local que faz parte da triste memória da História de Cabo Verde e Portugal.
O Grande Prémio FICCA Dos Direitos Humanos, abarca as narrativas voltadas para a juventude, mulher, comunidade LGBTI, indígenas, quilombolas entre outras minorias.
João Paradela, é realizador e também actor, é ainda professor Universitário e reside em Mindelo, Ilha de São Vicente. Para além deste trabalho, tem ainda no curriculum os documentários do ano 2000, “Clandestinos” (em co-autoria com o realizador Francisco Manso) e “Dez grãozinhos de Terra” (Coprodução com o Francisco Manso e Ministério da Cultura de Cabo Verde, Alto Patrocínio da Presidência da república).
O Festival Internacional de Cinema do Caeté – FICCA, que tem como mentor o cineasta brasileiro Francisco Weyl, acontece anualmente nos dias 8, 9, e 10 de Dezembro.